O Brasil tem se destacado no mercado internacional de RFID (identificação por radiofrequência) há alguns anos com alguns casos de sucesso reconhecidos pela inovação, tanto nos processos de reciclagem de produtos (leia mais em HP terá chip RFID brasileiro para rastrear cadeia sustentável) como no varejo de vestuário (leia mais em Nova rede de moda brasileira estréia com RFID e Loja da Billabong no Alphaville atrai visitantes até de outros países).
Agora, o CPqD participará dos testes do padrão europeu já existente de RFID, mas que sofrerá alterações basicamente na faixa de frequência, largura e espaçamento dos canais. “Nosso apoio será na validação deste novo padrão que já esta estruturado. Para tal, eles necessitavam de uma câmara semi-anecoica de grande porte, de equipamentos de referência e a condição da montagem de um setup similar com equipamentos do padrão brasileiro”, afirma Leandro Ruzene Sergio, da gerência de soluções em tecnologia wireless do CPqD.
Os testes serão realizados de 21 a 24 de maio de 2013, em Campinas (SP), na sede do CPqD, mesmo período em que se realizará o evento internacional do Fórum de Internet das Coisas (IoT), em São Paulo, em parceria com o projeto PROBE-IT, com o apoio da ETSI, do IoT International Forum e também do CPqD.
De acordo com Sergio, o objetivo principal dos testes não é uma comparação entre os modos utilizados por Brasil e Europa, e sim o apoio tecnológico do Brasil à validação de um novo padrão Europeu. “A chave esta na relevância da infraestrutura e da capacitação brasileiras para tal tarefa”, acrescenta. “Existem interesses em ambos os lados. Para nós, o mais importante é avaliar a convivência entre a tecnologia RFID regulamentada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e as tecnologias de comunicação móvel celular – neste caso avaliaremos a GSM 900 – que são vizinhas em termos de espectro”.
Testes como estes também têm sido realizados desde 2010 pelo RFID CoE (RFID Center of Excellence), em Sorocaba (SP). “O objetivo tem sido testar a interferência entre as faixas de frequências utilizadas por diferentes equipamentos”, afirma Renata Rampim de Freitas Dias, professora associada ao RFID CoE e vice-chair da IEEE Education Society Chapter – IEEE South Brazil Section.
Sergio acrescenta que este resultado é de suma importância para o lado brasileiro, pois a Anatel está trabalhando em atualizações para a regulamentação em RFID e muito provavelmente acompanhará de perto a execução dos ensaios. “Por outro lado, certamente haverá uma comparação indireta entre os padrões, porém a utilização do modelo europeu, em termos de tecnologia e faixa de frequência, é inviável atualmente no Brasil, em função do arcabouço legal estabelecido para a tecnologia”, explica.
No caso do RFID UHF, o Brasil não pode adotar equipamentos de nenhum lugar do mundo sem que estes passem por uma modificação na frequência em que trabalham. A razão é que uma faixa de frequência do RFID está ocupada, no país, pela banda da operadora de celular Claro. “Porém, os equipamentos fabricados na Europa já utilizam também com o padrão americano (FCC) e, daí, para que estejam de acordo com o padrão brasileiro necessitam apenas de uma mudança em sua faixas de operação para contemplar o espaço ocupado pela banda de comunicação móvel celular”, diz Sergio.
Sobre a metodologia, Sergio explica que “as tags que serão utilizadas atendem aos padrões dos testes: serão as mesmas para não impactar na análise final, uma vez que os resultados adquiridos pelo sistema brasileiro servirão de referência para a validação do novo padrão europeu”.
O padrão europeu já opera em frequência fixa, em 4 canais na faixa de 860 MHz, diz Sergio. “Diferentemente do padrão brasileiro, que trabalha em salto de frequência [devido à faixa destinada à operadora de celular Claro]: na faixa de 902 a 907 e 915 a 928MHz”. Sendo assim, segundo Sergio, a validação que ocorrerá por parte do ETSI gira em torno da nova faixa proposta, de 921 MHz, ainda em frequência fixa.
A escolha do Brasil para sediar os testes se deu, entre outras coisas, por uma dificuldade semelhante que existe na nova faixa, esclarece Sergio: a proximidade das tecnologias RFID e de comunicação móvel celular, no Brasil, e com Railways, na Europa.
Outro esclarecimento importante feito por Sergio refere-se aos padrões ISO e EPC Gen2, que não serão impactados pelos testes.
O CPqD foi criado em 1976 como Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrás, empresa estatal que detinha o monopólio dos serviços públicos de telecomunicações no Brasil. Em 1998, com a privatização do sistema Telebrás, o CPqD tornou-se uma fundação de direito privado, ampliando a sua atuação, tanto no escopo como na abrangência do mercado.