Um estudo realizado por especialistas do RFID CoE (Center of Excellence), de Sorocaba (SP), com base em testes experimentais concluídos no laboratório do instituto, mostra que, se for adotado o padrão de comunicação ferroviário europeu na operação do Trem de Alta Velocidade (TAV) no Brasil, o chamado Trem Bala, os sistemas de identificação por radiofrequência (RFID) que hoje já operam no país sofrerão com a degradação na leitura das tags.
O estudo foi apresentado na Malásia, em setembro de 2013, no Congresso Internacional de RFID Tecnologia e Aplicações, na IEEE RFID-TA 2013, pelos seus autores brasileiros: a professora Renata Rampim de Freitas Dias, membro do IEEE, professora associada do RFID CoE e doutoranda pela Universidade de Campinas (Unicamp), o professor-doutor Hugo E. Hernandez Figueroa, membro sênior do IEEE e integrante do Departamento de Microondas da Unicamp, e o engenheiro Luiz Renato Costa, membro do RFID CoE.
De acordo com a professora Renata, para os estudiosos do RFID, o que está em pauta não é a importância do Trem Bala para o Brasil, considerado positivo para melhorar os transportes, mas como afetará o desempenho dos sistemas de RFID no país, se for utilizada a mesma faixa de frequência já designada para a identificação por radiofrequência.
“Se a faixa de frequência do RFID for destinada ao Trem de Alta Velocidade, todas as aplicações brasileiras, independentemente de sua localização, deverão se adequar a esta nova realidade, pois o RFID é tido como um sistema secundário perante a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e o telecomando do trem é primário”, esclarece a professora.
Isto é exatamente o que mostra o paper, que está publicado na íntegra no site do RFID Journal Brasil, em inglês, na seção Documentos, sob o título Analysis of impacts on the change of frequency band for RFID system in Brazil (Análise do impacto da mudança da banda de frequência do sistema RFID no Brasil).
Atualmente, o espectro de frequência da RFID UHF no Brasil abrange as faixas de 902 a 907,5 MHz e de 915 a 928 MHz, divididos em 35 canais com modulação de Frequency Hopping (saltos em frequência), dos quais 10 canais se encontram na primeira faixa e 25 canais se encontram na segunda faixa.
Segundo o engenheiro Armando Lucrecio, coordenador do RFID CoE, o Trem de Alta Velocidade no Brasil, com previsão de implementação para 2020, utilizará a primeira faixa de frequência de RFID descrita anteriormente para a sua comunicação.
“A Anatel”, dz Lucrecio, “especifica as seguintes características para a transmissão de dados de equipamentos de radiação restrita, como por exemplo o RFID: a potência máxima de saída do transmissor deve ser de 1W para sistemas que trabalham acima de 35 canais e de 0,25W para sistemas que trabalham abaixo de 35 canais”. Sendo assim, a potência dos sistemas RFID teria de ser reduzida para um quarto do que é hoje, o que reduz o poder de leitura das tags.
“Ou seja, com a diminuição do espectro de frequência somente para a segunda banda de transmissão, os sistemas RFID contarão apenas com 25 canais e, de acordo com a regulamentação vigente hoje, não seria possível transmitir em 1W, somente em 0,25W”, conclui Lucrecio.
“Para que o sistema RFID não sofra degradação considerável dos sistemas já existentes, é necessária uma revisão da regulamentação vigente hoje em dia [Resolução 506, da Anatel], para que sistemas que operam com menos de 35 canais possam transmitir com 1W de potência”.
Fontes da Anatel afirmam que já se realizaram testes com o propósito de avaliar a utilização de parte do espectro de frequência hoje destinada ao RFID para o Trem Bala, mas não foram divulgados publicamente.
“Se este era o propósito, o artigo abordou exatamente este tema”, esclarece Renata. “Idealizei alguns testes, que foram realizados no RFID CoE. Redigimos o artigo com as devidas conclusões e submetemos ao IEEE RFID-TA 2013. O resultado da avaliação deste artigo pelo comitê do IEEE RFID-TA foi excelente”.
Segundo a professora, o documento tem bases técnicas fundamentadas e foi bem avaliado pelo IEEE, servindo para fundamentar as argumentações perante a Anatel sobre os danos aos sistemas RFID já implantados. “Haverá uma degradação na leitura, pois a faixa está muito reduzida e com potência muito baixa conforme consta no artigo”.
Para Lucrecio, “de acordo com os testes que fizemos [no RFID CoE], se não houver mudança no sistema de transmissão para sistemas que trabalhem com menos de 35 canais de salto, haverá um sério problema de performance nos sistemas RFID já utilizados nos dias de hoje”.